Calor... e incêndios
Chegou o calor! Chegaram aqueles dias de canícula intensa, convidativos á praia, aos banhos (quer em casa, no rio ou no mar) em que se aumenta o consumo de bebidas e gelados, em que se vêem menos centimetros de roupa e consequentemente, mais centimetros de corpo á mostra... ;-)
Era bom se de facto os dias de calor se resumissem a estas pequenas coisas que já foram referidas. Mas este ano também teremos que falar de situações de seca e de incêndios; uma realidade que não deixa de ter alguma frequência aqui em Portugal.
A questão da seca já não é nova. Mesmo nos meados do século XX aconteciam períodos de seca: as secas de 1964/65, 1975/76 e 1990/91 foram algumas das secas mais significativas que ocorreram em Portugal. Por isso, é uma questão com a qual estamos habituados a lidar há algum tempo. Mas será que temos aprendido algumas lições? Ainda hoje ouvimos falar de locais que só dispõem de duas horas de água por dia, ou que necessitam de ser abastecidas pelos auto-tanques dos bombeiros. Ouvimos queixas dos agricultores que dizem que necessitam de ajuda, já que não conseguem produzir ou que não têm nada com que alimentar o gado - não deixa de ser paradoxal que os produtores de batata da Bairrada se queixem de falta de escoamento da sua produção (o preço nem sequer cobre as despesas: 5 cêntimos o quilo, enquanto que o consumidor paga 35 cêntimos!) - mas estranhamente, os agricultores que pedem ajuda são provenientes do Alentejo: será que os das outras regiões não têm razões de queixa? Apenas os agricultores transmontanos ainda se vão queixando na TV, mas não têm a predominância dos agricultores alentejanos. Mas isso é outra história... Mas voltando á questão da seca, continuamos a ter problemas: talvez as autoridades não tenham tradição de planeamento para este tipo de situações, e continuem a viver confiando na sorte que Deus nos dá, assim como todos nós, que certamente desperdiçamos água em muitas situações. Gasta-se dinheiro em campanhas publicitárias, mas paradoxalmente vemos em muitas cidades e vilas fontes decorativas - não estarão a desperdiçar água?
Quanto aos incêndios, estes só chegaram em força a partir de 1975 - muito embora o incêndio mais mortifero tenha sido em 1966, matando 25 militares que combatiam as chamas - e têm sido um flagelo que se repete em todos os Verões, nalguns anos com mais intensidade, nos outros menos. O de 2003 foi particularmente doloroso: mais de 150.000 ha de área ardida, dezenas de casas destruidas, 20 mortos confirmados. Nalguns concelhos, ardeu mais de 50% da superficie total concelhia. Porque será que os incêndios acontecem? Por multiplos factores: sabe-se que mais de 70% (para não dizer 80 ou 90%) têm origem antrópica, implicando muitas vezes mão criminosa. Os interesses imobiliários, as vinganças ou pura e simplesmente a necessidade que algumas empresas de aviação (cujo Estado contrata para combater os fogos) têm em rentabilizar o material que dispõem são bons motivos para a mão criminosa nestes fogos. Ouvimos todos os anos falar em reforço de meios mas ninguém diz que vai haver uma limpeza geral das matas ou que as próximas plantações serão realizadas com conta, peso e medida: desde o Estado Novo que as plantações de árvores nas florestas portuguesas se cingem ao pinheiro bravo (fomentado pelo Estado Novo de Salazar) ou ao eucalipto (que interessa sobretudo ás celuloses). Ninguém se lembra do carvalho, uma árvore de madeira nobre e uma espécie resistente ao fogo - cujo grande defeito é ter um crescimento lento para poder ser rendivel.
Se calhar é por isto tudo que hoje o distrito do Porto esteve rodeado por incêndios florestais, e que ontem esteve todo o dia coberto com uma nuvem de cinzas durante todo o dia, provocando assim, incómodos na vida quotidiana - ar irrespiravel, temperaturas altas, carros cobertos com cinzas, assim como cortes em diversos troços de auto-estrada, provocando enormes filas de trânsito.
Espera-se que pelo menos, os incêndios não tenham este tipo de dimensão durante os próximos tempos!
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