quarta-feira, julho 13, 2005

O arrastão e a matemática



Todos nós ouvimos falar do suposto arrastão que sucedeu em Carcavelos. Muita gente a ser assaltada, roubada, espancada, etc... A jornalista Diana Andringa fez um filme em que afinal, o dito arrastão não existe. Será que foi uma manobra de diversão feita por alguém com interesses muito obscuros?
Senão, reparemos: ouvimos falar, durante dias seguidos, desse mesmo arrastão - e, por magia, esquecemo-nos dos arrastões que nos fazem todos os dias: aumento do IVA, aumento repetido dos combustiveis, os anunciados cortes que nunca atingem quem deveriam atingir - aqueles que mais lucram com o Estado, e que certamente não será o funcionário público que está no mais baixo posto.
Como é que alguém como Vitor Constâncio, terá autoridade para falar em cortes na despesa, se eu próprio o vejo na TV a sair de um BMW novo em folha? Como é que ele terá autoridade para falar em moderação de salários e diminuição do crescimento económico se ele foge ás perguntas dos deputados (do PSD, note-se) acerca dos seus rendimentos pessoais e de toda a equipa administrativa do Banco de Portugal dizendo-lhes que não responde a perguntas de carácter pessoal? Como é que ninguém ainda teve coragem de lhe dizer que o seu discurso está gasto, pois desde 1978 não para de falar em cortes e de dizer que os Portugueses vivem acima das suas posses? Ele que comece a dar o exemplo: que abdique da sua reforma de governador do Banco de Portugal e que aceite a reforma geral da Segurança Social - 34 contos, ou 170 euros (se não me enganar nos cálculos).
E já agora, os ministros todos também podiam fazer o mesmo e terem a coragem de não dizer, com a maior lata do mundo, que estas regalias são direitos adquiridos (como já se disse na TV): o combate ao défice, se ele tem q existir, tem q passar por todos, e o exemplo tem q vir ao de cima!
E a Manuela Ferreira Leite, se na verdade acha que vale dez vezes mais do que aquilo que o Estado Português lhe pagou enquanto era ministra da Finanças, o que é que ela foi para lá fazer?
E porque é que se pagam ordenados principescos aos gestores de empresas públicas? Assim elas não dão lucro, de certeza! E se é para fazer asneiras repetidas (como no caso da STCP e CP) mais valia não se darem ao esforço de pagar á administração...
Vamos ter, pelo menos, a decência de sermos honestos. Pelo digam na cara dos Portugueses que estão a exercer cargos públicos para ganhar dinheiro! E façam o que têm a fazer para merecer o ordenado que têm: mais e melhores serviços, dinheiro melhor gasto.
E, finalmente, deixem-me dizer isto: na verdade, os governos e os políticos em geral não ficaram muito preocupados com as recentes (más) notas de matemática, nos exames do 9º ano. Se os alunos fossem muito bons, é que se preocupavam: afinal, sempre teriam mais capacidade de saber qual o montante está a ser saqueado pelos políticos. E por aqueles que não pagam os impostos, o que afinal, deve ser (quase) a mesma coisa...
Por isso, lembrem-se: o verdadeiro ladrão está muito mais perto de nós do que se pensa. E não precisa de ter cor da pele diferente...